A viagem que o então regente e futuro d. João VI empreende até o Brasil nada tem de precipitada: é discutida e muito bem planejada (seria difícil imaginar que quinze mil pessoas, entre nobres, funcionários e suas respectivas famílias, mais todo o dinheiro do reino, a prataria, as bibliotecas e os documentos administrativos pudessem ser embarcados às pressas). Mas é uma viagem certamente feita sob pressão: das invasões francesas e da armada inglesa, sob o comando de sir Sidney Smith, que bloqueia o rio Tejo para apressar o príncipe regente. Sob a proteção de quatro navios de guerra ingleses, em 29 de novembro de 1807, partem as quinze embarcações que compõem a frota portuguesa.
A família real aporta em Salvador, na Bahia, no início de 1808. Lá d. João cria a Escola de Medicina da Bahia e decreta a abertura dos portos brasileiros às nações amigas. A mudança da corte portuguesa deve prosseguir, no entanto, até o Rio de Janeiro. A viagem é feita com grande incômodo, tanto pelo acanhamento das acomodações que os passageiros se vêem obrigados a partilhar durante cerca de cinqüenta dias como por se tratar de uma corte habituada a uma rígida etiqueta que em nada facilita o convívio. Basta dizer que, por uma questão de etiqueta cerimonial, os ocupantes do brigue Voador, os primeiros a se aproximar do Rio de Janeiro, em 14 de janeiro, só podem desembarcar após a chegada do príncipe regente, de sua esposa, d. Carlota Joaquina, e da rainha, d. Maria I, em 8 de março. Quem não faz cerimônia são os piolhos, que infestam esta e as outras naus a ponto de as mulheres serem obrigadas a raspar a cabeça.